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Rancho em Descalvado, SP, é restaurado após incêndio
Agronegócio
Publicado em 04/01/2022

Após um incêndio provocado por ações humanas, em 2007, a mata ciliar de um rancho em Descalvado, SP, às margens do rio Mogi Guaçu foi destruída, restando 53 árvores de 13 espécies. Pesquisador da Embrapa e consultora da área ambiental, ambos engenheiros florestais, trabalharam para recuperar as suas funções ecológicas e utilizá-la economicamente para a produção de frutas para subsistência de pequenos produtores e, em conjunto, servir de subterfúgio para a fauna.

A mata ciliar ou Área de Proteção Permanente (APP) é a última e mais eficiente barreira de proteção dos cursos d’ água por que retém o solo erodido, poluentes químicos (pesticidas) e biológicos (principalmente fungos e bactérias). O principal objetivo era a sua restauração e a melhor maneira de atingir este objetivo é fazendo a diversificação máxima possível. Desta forma foram cumpridos os objetivos ambientais além de proporcionar ao proprietário uma renda ou fonte de alimentação, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Laerte Scanavacca Jr.

“Plantamos 48 espécies de 28 famílias entre árvores e arbustos, todas perenes, das quais 23 são nativas, sendo 19 da Mata Atlântica, e 25 são exóticas, Cerca de nove mudas foram plantadas por espécie, totalizando 429 mudas”, diz o pesquisador.

Processo

A área de estudo, de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, foi tomada por capim colonião com 3 m de altura.  As espécies que foram plantadas tinham objetivos básicos - frutos para consumo humano; abrigo e alimentação para fauna, e uso medicinal e madeireiro. Aos 4 anos, a altura média das árvores foi superior a 2m e a sobrevida média foi de mais de 65%. O custo da implantação foi de R$ 31.864,00/ha.

Conforme Maria de Fatima Adorno, consultora ambiental, a restauração ecológica deve considerar os aspectos ecológicos, econômicos e sociais. A regeneração da floresta, após uma perturbação natural ou causada pelo homem ocorre pelo recrutamento do banco de sementes e mudas ou pela contribuição das árvores remanescentes com a chuva de sementes. Porém, se no banco de sementes houver espécies invasoras mais agressivas e com desenvolvimento inicial mais rápido, como é o caso das plantas C4, plantas com taxa de crescimento muito rápido, normalmente gramíneas, que crescem bem mais rápido que as espécies florestais, a regeneração florestal fica comprometida.

O Rancho Pirajussara está localizado na fazenda chamada “Santa Luzia”, que cultiva exclusivamente cana-de-açúcar. A propriedade possui sete minas d’água, com drenagem permanente, independentemente do período de estiagem, o que a torna autossuficiente para a irrigação de mudas plantadas principalmente no outono e inverno.

Onde o solo estava desprotegido porque as árvores ainda eram pequenas, foi plantada uma espécie de leguminosa herbácea para proteger e enriquecer o solo fixando nitrogênio. Para a sobrevivência das mudas na estação seca, elas eram irrigadas duas vezes por semana, até a chegada das primeiras chuvas.

Não há diferença estatística entre os três grupos de espécies para o número de mudas, porcentagem de sobrevivência ou altura das plantas, significando que os três grupos são estatisticamente equilibrados, explica Scanavacca. “A intenção era a diversificação máxima, pois tornava mais eficientes os processos de reabilitação de áreas degradadas, explica o pesquisador. Quanto mais próximas geneticamente, maior a competição entre as espécies maior é a suscetibilidade a pragas e doenças, o que reduz a produtividade ou sobrevivência”. 

Mesmo com o plantio de espécies exóticas, a restauração florestal tende a se aproximar da floresta secundária ao longo do tempo devido a melhorias no microclima e migração de espécies nativas. As modificações abióticas realizadas pelas espécies plantadas promovem as condições necessárias para a colonização das espécies nativas. Atributos funcionais são alcançados em cerca de 40 anos, enquanto a diversidade de espécies precisa de aproximadamente 70 anos.

O grupo de outras espécies (Lecythis pisonis, Paubrasilia echinata, Handroanthus serratifolius etc.) apresentou desempenho intermediário na sobrevivência e na altura média das plantas. As espécies que atraem a fauna (Pouteria caimito, Pachira aquosa, Mauritia flexuosa etc.), tiveram piores percentuais de sobrevivência e altura média. São espécies sem tradição de viveiro e com baixa disponibilidade de sementes, geralmente as sementes dessas espécies são colhidas de poucos indivíduos e com alto índice de endogamia, o que se refletiu em seu desempenho.

Com informações da Embrapa
Foto: 
Laerte Scanavacca Jr.

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